Oct 18, 2023
Comestível, biodegradável, anti
Projetado para uso como embalagem de alimentos, o material é produzido por cientistas da Universidade Estadual Paulista a partir de gelatina, argila e uma nanoemulsão de óleo essencial de pimenta-do-reino. Fundação de Amparo à
Projetado para uso como embalagem de alimentos, o material é produzido por cientistas da Universidade Estadual Paulista a partir de gelatina, argila e uma nanoemulsão de óleo essencial de pimenta-do-reino.
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
O descarte de embalagens de alimentos é uma das principais causas de poluição ambiental em todo o mundo. Mais de 350 milhões de toneladas métricas de plástico são produzidas todos os anos e 85% do lixo despejado nos oceanos é plástico, segundo estimativas. O Brasil é o quarto maior produtor, respondendo por cerca de 11 milhões de toneladas por ano. Para piorar a situação, a maioria das embalagens plásticas é derivada de fontes não renováveis, como o petróleo.
Tendo em conta todos estes inconvenientes, a redução da utilização de combustíveis fósseis para a produção de plástico é alvo de muitas pesquisas em todo o mundo. Muitos cientistas estão trabalhando no desenvolvimento de materiais de embalagem biodegradáveis que também evitem a contaminação por microorganismos e estendam a vida útil, de modo a reduzir perdas.
Um estudo realizado por uma equipe de pesquisa denominada Grupo de Compósitos e Nanocompósitos Híbridos (GCNH) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Ilha Solteira produziu uma importante contribuição para esse esforço. Foi apoiado pela FAPESP e um artigo relatando suas conclusões estáPublicadosna revista Polímeros.
Os pesquisadores produziram seu bioplástico (ou “plástico verde”, como também é conhecido) a partir de gelatina bovina tipo B, facilmente encontrada no varejo na forma de um pó incolor.
“A gelatina foi um dos primeiros materiais utilizados na produção de biopolímeros. Ainda é amplamente utilizado devido à sua abundância, baixo custo e excelentes propriedades formadoras de filme”, disse o químico e cientista de materiais.Márcia Regina de Moura Aouada, professor da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS-UNESP) e último autor do artigo.
“No entanto, os biopolímeros para embalagens possuem características que precisam ser melhoradas para serem comparáveis aos derivados de petróleo, principalmente no que diz respeito às propriedades mecânicas e à permeabilidade ao vapor, por isso adicionamos nanoargila cloisite Na+ à gelatina”, explicou.
A adição de nanoargila tornou o filme mais homogêneo e aumentou sua resistência à tração para 70 megapascais (MPa). As embalagens convencionais de polietileno apresentam menos da metade dessa resistência à tração (na faixa de 20 MPa-30 MPa).
“Além da nanoargila, adicionamos também uma nanoemulsão à base de óleo essencial de pimenta-do-reino para dar sabor e odor mais atrativos à embalagem. A mistura também prolonga a vida útil dos produtos alimentícios embalados com o material, graças à inclusão de componentes antimicrobianos e antioxidantes na matriz polimérica”, disse.
Vale ressaltar que o bioplástico em questão foi originalmente projetado para embalar carne bovina na forma de hambúrgueres, que são vulneráveis à contaminação microbiana e possuem cheiro forte, mas o princípio de adicionar nanoargila e nanoemulsão de óleo essencial a uma matriz de gelatina pode e irá ser estendido a outros alimentos, variando o tipo e a proporção de óleo essencial utilizado.
“Se este tipo de embalagem se generalizar no mercado, poderá reduzir significativamente a utilização de plástico feito de polímeros não biodegradáveis e, consequentemente, a quantidade de resíduos sólidos”, disse Moura Aouada. “Além disso, o bioplástico protegerá melhor os alimentos embalados contra contaminação por patógenos e ajudará a reduzir perdas.”
As linhas de pesquisa seguidas no GCNH-UNESP focam na economia circular, que converte resíduos em recursos. Os líderes do grupo,Fauze Aouadae Márcia Moura Aouada, são professoras vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Ciência dos Materiais (PPGCM) da UNESP.
“As nossas propostas estão alinhadas com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] adoptados pelas Nações Unidas para acabar com a pobreza, promover a sustentabilidade económica do planeta e garantir que toda a população mundial possa desfrutar de paz e prosperidade”, disse Moura Aouada.